Quatro e vinte sete da madrugada. Acordo com uma barulheira descomunal, que se devia ouvir em toda a rua e que ecoava por todo o prédio, de uma conversa sobre qualquer coisa de Angola.
Não percebi imediatamente o que se passava porque estava estremunhada do sono. Podia até ser um maluco qualquer com o rádio em altos berros na rua. Só então comecei a perceber que o barulho vinha por cima de mim, da minha vizinha de cima. A princípio até pensei que tivesse colocado a aparelhagem para despertar e que aquilo iria parar rapidamente. Mas não. Esperei que aquele barulho infernal terminasse, o que não aconteceu.
Chateada com o que se estava a passar e cheia de sono, resolvi vestir o robe e ir lá acima bater à porta para pedir que baixasse o volume. Subi as escadas e toquei à campainha. A minha vizinha desliga a aparelhagem com o som no máximo, abre-me a porta e desata a falar em altos berros. Eu fiquei abismada! É que eu que eu nem consegui dizer nada.
Segundo ela, há alguém que põe a máquina de lavar roupa de madrugada e ela ouve esse barulho e não consegue dormir. Por isso, esta noite, pôs a aparelhagem desta maneira para abafar o tal "som da máquina". Mas vocês nem imaginam a figura: de pijama, gadelhas no ar e um ar de psicopata descontrolada.
Acabei por não lhe dizer grande coisa, apenas recomendei que chamasse a polícia e que fizesse queixa à administração. E comecei a virar-lhe as costas para me vir embora. Afinal ela ia continuar aos berros, com a mesma conversa, e eu estava com sono, frio e sem vontade de acordar o resto da vizinhança.
Acho que a fulana fez queixa na reunião de condomínio acerca dos barulhos que só ela ouve. A impressão com que os condóminos dos prédio ficaram é que ela era doida. Na verdade, todos os barulhos que ela ouve, supostamente, nós também deveríamos ouvir. E não ouvimos. O prédio tem uma café e é natural que no silêncio da noite se oiçam os motores dos frigoríficos. Mas é fácil combater isto, basta mudar a cabeceira da cama para a parede oposta.
No prédio ao lado, existe uma fábrica que trabalha de noite. Há muitos anos atrás as pessoas desse prédio e as do meu, queixaram-se e mexeram-se e enquanto eles não insonorizaram a fábrica, não baixaram os braços. Portanto, o barulho também não vem daí.
Agora pergunto eu: que direito tem a minha vizinha de me incomodar a mim durante o sono por causa de algo que outro vizinho fez? Isto está correcto? O barulho que ela possa ouvir vindo debaixo será o ladrar do cão, que à noite é muito raro acontecer, ou a TV que não costuma estar com o som alto.
Fiquei mesmo chateada e já não consegui dormir grande coisa.
Desde as 8 da matina que estou a pé... a corrigir testes! Não havia necessidade de começar a olhar para o papel, rabiscar certos e errados e colocar cotações em grelhas no computador tão cedo. Pois não.
Acontece que a minha mãe tinha uma consulta no hospital de manhã cedo, e como eu não podia acompanhá-la, foi o meu irmão (que não faz mais do que a sua obrigação!) com ela. Quando sou eu a acordar cedo, tenho de andar em pezinhos de lã, não posso falar alto nem acender luzes.
Mas se for o meu irmão, a coisa muda de figura. Fala-se alto, deixam-se luzes acesas, anda-se para trás e para a frente sem o mínimo de cuidado. É que aqui me, myself and I como não trabalha a fazer esforço físico não tem direito a estar cansada, a precisar de dormir mais um pouco, a ter dores. Por isso, toca a fazer barulho porque já acordei e todos têm de acordar!
Depois de acordada,despertei e fiquei a olhar para o tecto. Como tenho mais que fazer, saltei da cama, arranjei-me e... unhas ao trabalho. Já corrigi uma turma de testes, já publiquei as notas de 4 turmas de testes e já ultimei os preparativos para as aulas de hoje. Cansada, eu?!? Naaaa... Sou de ferro. Nada de amolga ou amachuca. Dizem por aí.
E agora é pegar nas coisas e arrancar para a escola para a segunda etapa do trabalho de hoje...
São 6.50 da manhã de sábado. Subitamente sou interrompida noutro dos meus sonhos estranhos, em que me encontro à espera do bus para ir para a escola, com um casaco comprido preto que tenho e umas havaianas nos pés. Pormenor interessante: estava tudo enlameado e eu toda incomodada de ter os dedos os pés a ficar salpicados com a lama. I wonder why…
“Trim…! Trim…! Trim…!” Ouvi qualquer coisa lá ao fundo mas pensei que até fosse no meu sonho. Ignorei e mantive-me no quentinho dos lençóis, onde o meu love me envolvia no calor dos seus braços e o meu fiel escudeiro, Pimentinha, me guardava os pés.
Novamente o “Trim…! Trim…! Trim…!”. Caraças – digo eu para os meus botões – publicidade a esta hora?!? Ou será a minha mãe?!Não, se fosse ela, telefonava primeiro. Digo eu.
Mas com tanta insistência, deve ser alguém aflito…
Sacrifício número 1: arranjar coragem para abrir os olhos; sacrifício número 2: mexer uma perna e depois a outra para zarpar da cama; sacrifício número 3: colocar os neurónios a funcionar a um ritmo decente.
Chego à porta, pego no auscultador do telefone da porta e pergunto: “quem é?” Alguém da rua pergunta: “ Marreco?!” (nome inventado para não dizer o verdadeiro. Mas era parecidooo…).
“Aqui não há nenhum Marreco!” E pluf! Desligo o interfone e pisgo-me de novo para a cama, zombie de sono.
Oiço tocar para a minha vizinha do lado, que não atendeu a porta e, por fim, descubro quem é o Marreco. São os meus vizinhos de baixo e a tocadora-de-campainhas-madrugadora era a irmã!
E mais… a dita cuja é que é a proprietária da casa!!!! Será possível alguém esquecer-se qual é a sua casa, o andar onde se localiza?!? E não falemos em amnésia.
Como se não bastasse o “despertar suave” da tal senhora, ainda continuou a falar como se fossem 5 da tarde, em tom bem alto, e a subir e descer escadas para ir buscar sacos!!! Que mal fiz eu?!?! Eu só queria ficar na cama mais um cadinho…
Alguém me passa uma almofadinha que eu quero dormir?